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Avaliação Psicológica e Formação em Psicologia

14/07/2011

Por Fernando Pessotto

Na Psicologia não são raros os temas que carecem de consenso por parte dos profissionais, atributo esse facilmente observável no campo da avaliação psicológica. Desde seu início, a avaliação psicológica se caracterizou por trazer temas permeados por dúvidas e críticas, seja pela não aceitação ou mesmo pelas diferentes opiniões. As críticas vão desde a formação do psicólogo até a prática profissional, sendo que ambos são apontados, muitas vezes, como deficitários.

No que se refere especificamente à formação em psicologia, fica evidente uma deficiência geral, e consequentemente, na avaliação psicológica. O tempo de graduação mostra-se insuficiente, levando à necessidade de cursos e atualizações posteriores. Além disso, algumas vezes, os professores têm demonstrado despreparo e acabam por contribuir para a má (in)formação dos futuros psicólogos, transmitindo conteúdos relacionados à avaliação psicológica de forma superficial, focando apenas aplicações e correções de testes, deixando de lado o fato de eles possuírem limitações e ainda de serem parte de um processo em que outros conhecimentos e procedimentos se fazem necessários. Essa questão influencia diretamente na prática do psicólogo, pois a avaliação psicológica está presente nas mais diversas áreas de atuação, como na clínica ou na área hospitalar, ao averiguar uma psicopatologia, nas organizações, utilizando-se de instrumentos para a seleção dos candidatos, na jurídica, ao se elaborar um laudo quando uma avaliação é solicitava por um juiz, entre outras.

Ao lado disso, outro ponto intimamente ligado à avaliação psicológica é o campo da pesquisa científica. É também na formação que a falta de incentivo à pesquisa ou mesmo a necessidade de constante atualização se inicia e acaba por permear a vida profissional do psicólogo. A prática da pesquisa nas universidades ou ainda, a busca por atualizações que levam o psicólogo a perguntar, questionar, sugerir, ou seja, que mantém o “saber psicológico” em constante movimento, deveria estar presente no cotidiano deste profissional. Em particular, na avaliação psicológica, a prática da pesquisa é indispensável, pois é por meio da constante atualização e aprimoramento das teorias e instrumentos que a área se desenvolve e proporciona a utilização de testes e técnicas funcionais e confiáveis. Além disso, o método científico e o processo em avaliação psicológica caminham lado a lado, compartilhando delineamentos e procedimentos.

Os testes e técnicas psicológicas também são alvo de críticas, devido aos resultados e decisões que se derivam deles. Também esse fato está intimamente ligado às questões de formação apresentadas anteriormente, já que a deficiência neste processo acaba por proporcionar profissionais despreparados para a demanda do mercado. Isso acarreta processos referentes à má atuação dos psicólogos; psicólogos estes que, muitas vezes vêm de uma graduação de atitude passiva, acostumada a apenas repetir procedimentos aprendidos, sem que se haja uma construção a partir dos conhecimentos adquiridos.

Sobre essa questão, algumas pesquisas têm demonstrado que o uso inadequado dos testes psicológicos é visto como o maior problema para a avaliação, muitas vezes por falta de interesse do profissional em se atualizar ou ainda pela não compreensão dos manuais. Esse é mais um ponto que pode ser relacionado a uma qualidade precária da formação ou ainda da formulação do instrumento, para o qual, como citado anteriormente, algumas vezes não há uma análise crítica por parte do profissional que faz uso das ferramentas.
Atestada a importância da área e a necessidade de avanços, muitas iniciativas foram tomadas na última década e persistem em um processo contínuo. Por exemplo, as exigências para o desenvolvimento, publicação e utilização dos testes têm sido mais rigorosas. Nota-se também uma maior importância nos laboratórios acadêmicos acerca do tema, gerando um maior número de pesquisas e consequente melhora na qualidade do trabalho realizado nos mesmos. Ao lado disso, a Assembleia das Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema de Conselhos de Psicologia (APAF), realizada em dezembro do ano passado, elegeu 2011 o Ano da Avaliação Psicológica, em que serão discutidos temas como os critérios de reconhecimento e validação a partir dos Direitos Humanos, a avaliação enquanto um processo, as relações institucionais pertinentes e a formação em si.

Mas o que fazer com a grande quantidade de psicólogos inseridos no mercado, que necessitam de auxílio direto em relação à avaliação psicológica? Talvez essa questão nos leve a uma reflexão com respeito à pergunta que dá título a este texto. É na tentativa de auxiliar nessas reflexões que se enquadra o Boletim Avaliação em Foco, buscando se integrar como uma possível contribuição, auxiliando de forma direta e prática as questões levantadas anteriormente. De maneira mais ampla, a finalidade é oferecer informação aos psicólogos para que as técnicas e procedimentos utilizados na avaliação psicológica sejam executados cada vez mais de maneira adequada.